
“Não, tem que ser agora!”
Foi o que me disse aquele ranzinza que por pouco não me arrastou teatro à fora, enquanto eu desligava o notebook. Devo confessar que minha perplexidade se confundia numa profunda indignação: acabáramos de fazer um espetáculo lindo; casa cheia de um público felicíssimo... Que motivo teria aquela figura irascível para tamanha rudeza?
Calmamente fui conduzido por alguém da equipe do TM para o ônibus. Fiquei sabendo então de uma certa pizza indigesta. Achei a coisa no máximo cômica.
Dias depois a agenda estava alterada: apresentações foram canceladas. Soube da ameaça, “dedo em riste”, de que não nos apresentaríamos mais em eventos patrocinados pelo Estado.
O que será tudo isso? Vaidade? Inveja?
Bobagem. O Teatro Mágico é uma fagulha. Pessoas poderosas apagam fagulhas todos os dias.
Ah, mas essa não! Essa arde. Arderá!
Para certos poderes a cultura deve ser tratada como artigo de segunda. Artista não pode virar “estrela”. Não podem julgar que, por receberem os aplausos, o respeito e o aval do público, possam ter seja lá qualquer tipo de dignidade.
Até essa nobre alcunha, “artista”, é reservada aos sublimes televisivos e radiofônicos. Nós não: somos carne de segunda. Independentes. Soa no nosso inconsciente um forte: “quem vocês pensam que são?” Saberemos com quem estaríamos falando?
O que se estampa aqui bem diante da sua, da minha cara, é um estrondoso “cale-se”. É um “aqui mando eu!”.
Você, enquanto eleitor, contribuinte, cidadão, público, não representa nada. Eu, como artista (se me permite) sou o reles que deve beijar a mão do suposto mantenedor do teatro estadual, do guarda da praça pública, do fiscal da biblioteca. Eles podem brilhar: são as únicas estrelas...Ainda que ninguém os aplauda.
A corajosa atitude dos membros desta comunidade do Orkut demonstra o que podemos nessa nova realidade “interconectiva”. Tal qual um zumbido de mosca na orelha de um gigante malvado, eles estão “incomodando”. Assim se faz a cidadania. Assim deve ser a nova democracia, como nenhum grego da Antigüidade ousou sonhar. A nossa voz precisa ser ouvida.
Mas é preciso acertar bem em cheio a orelha: quem são os malvados? Como pode a mosca afetá-los?
Com o voto. Melhor: com o não voto neles.
Não é o Teatro Mágico que está sendo caçado, cerceado. Não é apenas o público do TM que está sendo profundamente ofendido em seu direito cultural: aqui a afronta é contra todos os artistas. Todos os cidadãos. O espaço público está sendo violado pela imoral demonstração de força de alguns.
Nesse ano de eleições, atente bem para esses atores e seus parceiros de poder. Avise seus amigos. Espalhe a nova-velha: esse tipo de imposição, essa demonstração de poder, aliás, de abuso do “pequeno” poder, permeia algumas administrações...Não todas...Apenas algumas.
Fique bem atento, meu caro: você pode votar na tirania. Você, nas próximas eleições, pode eleger o devorador da liberdade de expressão artística.
A arte liberta. O administrador, muitas vezes, condena ao ostracismo.
Não permitiremos. Aqui não!
Comunicação é poder: exerça!
Texto:Galdino ( O Teatro Mágico)
Foto: Janinha - 2007 ( roubei do Album do Galdino)